sábado, 5 de junho de 2010

À estátua de Fernando Pessoa

Eu sentei-me ao lado dele,
numa rua de Lisboa.
O Fernando está sentado,
sereno, impávido, sério,
olhando os pombos,
os pombos que esvoaçam...
Olhando as pessoas,
as muita que passam...
E ele...Essa é boa!...
O Fernando, o Pessoa,
de óculos sobre o nariz,
mira a capela em frente,
o largo Camões acima,
um pouco abaixo o Chiado.
Mira meticulosamente,
cada gesto, cada coisa,
«as coisas do seu País»...
Numa cadeira de pedra,
com o chapéu à cabeça,
não há nada por ali,
que o Fernando não conheça...
- Não dá por mim a seu lado,
continua lá sentado,
se calhar está embrenhado,
quem sabe num pensamento!...
Lá fica na «Brasileira»,
a "fisgar" uma estrangeira,
que o olha admirada...
Parece até que ele sente,
"mexe os lábios levemente",
numa frase apropriada...
Porque o Fernando, é Pessoa,
pois a própria pedra entoa,
uma poesia inspirada.
- Não dá por mim a seu lado,
se calhar está embrenhado,
num pensamento qualquer...
- No velhinho casario,
que o faz descer p'ro rio,
quando o Fernando quiser!
- Numa criança que passa,
no Chiado que tem graça,
no «andar duma mulher»!...
- Num mendigo esfarrapado,
que ali pernoita estirado,
mesmo junto à Livraria...
Porque o Fernando, é Pessoa,
pois a própria pedra entoa,
os livros que escreveria,
ali onde está sentado...
Ele que bem conhecia,
aquilo que ele diria,
serem as "voltas do fado"!
Porque o Fernado é de pedra,
é nessa pedra esculpida,
que continua a escrever,
que nos escreve sobre a vida,
«que por vezes é tão boa,
outras vezes tão dorida»!...
- Porque o Fernando, é Pessoa,
porque o Fernando é poesia!...
Venho-me embora a pensar,
que o Fernando por lá fica,
por lá fica a meditar.
- Se podemos conversar?...
Pois se calhar, se calhar...
Terei de vir outro dia!...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Murmura um poema

Quando eu morrer,
podes sofrer,
mas fá-lo serena...
Porque existir,
amar, sentir,
valeu a pena!
Confronta a dor,
com o nosso amor,
tão belo e sério,
que para ele,
não há lugar
no cemitério.
Confronta a tristeza,
com toda a beleza,
da nossa vivência...
Se sem mistério,
a morte é sómente,
o “ponto poente”,
da nossa existência!
- Vá lá meu amor,
faz-me esse favor,
«vá lá, tem paciência»!...

Murmura baixinho,
com fé e carinho,
aquele poema,
que um dia escrevi...
Que tu sabes bem,
melhor que ninguém,
que o fiz para ti,
que foste esse tema!...
Que a morte, estou crente,
é só “estar de ausente”,
“partir em missão”!
- Ser “estrela cadente”,
“corpo incandescente”,
que cai de repente,
pela escuridão.
Luz intermitente,
presença fluente,
na tua lembrança,
na tua oração...

Vá lá meu amor,
faz-me esse favor,
que aquele que parte,
já sabe à partida,
o quanto viveu,
o quanto te deu,
o quanto te amou,
o “homem da vida”,
aquele que eu sou!...
O que ganhou,
O que perdeu,
quanto recebeu,
«quanto te marcou»!...
Que a morte “esfaqueia”,
golpeia, arrebata,
mas porém só mata,
quem já se “apagou”...

Vá lá, meu amor,
vou sobreviver,
que a morte não há-de,
“não pode vencer”…
- Não me vais esquecer,
por isso não chores,
se um dia morrer!...
Se a morte for fria,
terei a poesia,
p’ra me aquecer!

- Murmura um poema,
murmura um poema,
«que eu volto a viver»!...

Lembranças

Eu amei mulheres ingénuas,
amei mulheres assumidas!
Eu amei mulheres diferentes,
umas delas mais carentes,
outras porém mais vividas!...

Amei mulheres envolventes,
dessas que ao amar pressentes,
as histórias das suas vidas...
Dessas que «cerram os dentes»,
que se entregam como crentes,
sem esperar contrapartidas!

Eu amei mulheres «presentes»,
mas amei outras descrentes,
mulheres que estavam esquecidas!
Eu amei mulheres «ausentes»,
dessas que ao amá-las sentes,
«o quanto elas são sofridas»...

Amei mulheres «encontradas»,
pois que são equilibradas,
com mentes bem definidas.
Mas também mulheres falhadas,
fúteis e «cheias de nadas»...
Mas também mulheres perdidas.

Amei mulheres interessantes,
das que sabem ser amantes,
das que nunca são esquecidas.
Eu amei mulheres errantes,
das que se amam por instantes,
sem deixar marcas, nem feridas...

Mulheres lindas, engraçadas,
todas elas recordadas,
pelas «emoções sentidas»!...
- Se eu amei, foram amadas...
E se são «àguas passadas»,
são também lembranças queridas!!!

A Rosa

À noite faz “banga”,
vai pela Maianga,
vai linda e sózinha...
Em “busca das chetas”,
que o resto são tretas,
lá vai a Rosinha.
- Vai de botas pretas,
lá «vai à vidinha»!...

Assim maquilhada,
parece engraçada,
parece mais bela.
De “cara pintada”,
de “franja arranjada”,
«madeixas-canela».
Sobre o peito erguido,
um colar comprido,
de cor amarela...
- Que mulher bonita,
ninguém acredita,
que vem da “favela”!...

De saia travada,
blusa apertada,
de cinto e fivela.
Pela madrugada,
à beira da estrada,
lá vai, lá vai ela...
Que a vida é tramada,
que “ganha à noitada”,
no «Bar Cinderela»!

Que pela calada,
a Rosa é falada,
janela a janela!...
- Há gente “danada”,
de língua afiada,
que causa mazela.
Que «atira a pedrada»,
que não sabe nada,
que só “tem balela”!...

- Que a filha «entrevada»...
A Rosa coitada...
É quem cuida dela!!!

Sobretudo rosas

Deixei um ramo de rosas,
sobre a tua sepultura...
Eram vermelhas, vistosas,
peças de arte valiosas,
talhadas pela "natura"!

Longe de serem vaidosas,
emanavam misteriosas,
saudade, amor, paz, candura...
- Eram coisas preciosas,
mas sobretudo eram rosas,
postas ali com ternura!...

Como tu, tão preciosas,
eram sobretudo rosas...
As "rosas que te quis dar"!...
- Essas flores maravilhosas,
ali ficaram honrosas,
honrosas de te lembrar!!!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Acontece

Um homem nunca se esquece,
de quanto a vida o "marcou"!...
Passa o tempo, ano após ano,
...tudo apaga e desvanece,
«parece mesmo que esquece,
que "já lá vai", que passou»...

É o «tempo que adormece»!
É o homem que envelhece,
porque o seu rosto "enrugou"!...
- Durante o "sono" enternece,
numa calma que "arrefece",
tudo aquilo em que pensou...

Mas por vezes amanhece,
enquanto a mente entristece,
com algo que recordou!...
- Mas certo dia "acontece"...
Mas certo dia acontece,
que um homem "não se deitou"!