sexta-feira, 26 de março de 2010

Ti Maria

A Ti Maria anda triste,
tem o negro do desgosto,
estampado no seu olhar,
tem as rugas do seu rosto
salientes de chorar!...

Tem saudades do “Cambuta”,
que é o seu homem amado,
«todos sabem como é»!...
- Porque o País está em luta,
o “Cambuta” que é soldado,
foi um dia destacado,
para as matas do Bié!

Prometeu voltar um dia,
assim que a guerra acabar,
mas a “pobre” Ti Maria,
vive sempre em agonia :
«Quem sabe se vai voltar»?...

Mas a pobre Ti Maria,
é astuta e desconfia,
que “a guerra está p’ra ficar”!
- Passa o dia “prece a prece”,
ela acorda, ela adormece,
na saudade desse amor...
- A Ti Maria envelhece
e qualquer dia enlouquece,
nessa angústia, nessa dor...

- A Ti Maria enlouquece,
“lança búzios” e parece,
seus receios confirmar...
Na sorte que se lhe tece,
nem essa se compadece,
com três filhos por criar!...

- Ti Maria não merece...
- Não sabe o que acontece,
se o “Cambuta” não voltar...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Menina Colegial

Não sei se devo lembrar-te
com um sorriso sereno,
lembrando tempos de outrora...
Não sei sequer, se pensar-te,
será defeito ou só arte,
batendo em mim nesta aurora,
Menina Colegial!...

Se foi um dia ao amar-te
que me perdi de paixão...
- Não sei se devo lembrar-te,
ou apenas recordar-te
com um sorriso de amor...
Mas seja enfim o que for,
é bom eu poder olhar-te,
sonhar e assim achar-te
na minha recordação!...

Menina Colegial...
Que doce és no coração!...
Outrora "mulher fatal",
mulher da minha ilusão,
és sorriso "angelical",
já gravado a "pedra e cal"
na minha resignação...
- Não sei se devo esquecer...
Não sei se devo lembrar-te,
«se serei capaz de tal»!...

- Não sei se devo esquecer...
Não sei se devo lembrar-te,
Menina Colegial!...

sábado, 20 de março de 2010

Os «velhos do Restelo»

Os «Velhos do Restelo»,
voltaram, são fantasmas,
lá estão à beira-mar!...

Podes vê-los ao longe,
na «posição de Monge»,
sempre a gesticular.

Não querem nem saber,
aonde o mar vai ter,
«onde te vai levar»...

Gritam p’ra te dizer,
que «partir é morrer»,
que «tu tens de parar»!...

- Mas tu tens de partir,
porque é preciso ir,
«é hora de zarpar»!

Que vês o mar a abrir,
o céu a colorir,
que é «tempo de sonhar»...

- Os «Velhos do Restelo»,
voltaram, são fantasmas,
«por lá hão-de ficar»!...

A fé

Vendo palavras e versos
e também sonhos diversos,
nestes livros que são meus.
- Vendo a dor e a loucura,
porque a vida me foi dura,
que vivi momentos breus...

Vendo a vida que me invade,
vendo o tempo e a saudade,
que tenho no coração.
- Vendo esta minha verdade,
vendo a paz, a tempestade,
“que nascem da minha mão”.

Vendo frases, pensamentos,
que deixo ao sabor dos ventos,
«desses ventos que semeias»...
- Vendo frases, vendo rimas,
vendo palavras e letras,
que correm nas minhas veias...

- Tece a vida suas teias,
lá vamos paredes-meias,
todos rumamos a norte!...
Vendo frases e ideias,
«vendo fogo e tu ateias»,
ao sabor da tua sorte!

Posso vender «marés cheias»,
entre as quais tu serpenteias,
em poemas que são meus!...
- Vendo a vida, que acontece,
mas não vendo a minha prece,
nem a fé que tenho em Deus!

Força e fé

«Vida dura, está doer»!...
Eu levava as mãos ao peito,
para o peito eu proteger.
- Sentia apertar o “laço”…
Mas uéé, o que é que faço?...
Mamãe não quero morrer!

- Queria ir á guerra e lutar,
com “lições” que ia buscar,
num passado visto a espelho!...
- E tu Mãe, p’ra me acalmar,
“fazias” « meu Pai chegar»,
p’ra me dar sábio conselho!...

- «Ouvia a porta bater»,
parece que estou a ver,
o meu Pai por ela entrar!...
- “Mais velho” no seu saber,
dele é que eu ia colher,
a coragem de enfrentar!

Na minha terra era assim:
- Velhice não era o “fim”,
mas era um “posto cimeiro”!...

- Cada velhinho era um “rei”,
um «Soba da sua grei» !...
Era “o chefe”,o conselheiro!

- Dessa cultura arreigada,
“talho ainda a minha espada”,
toda talhada em “pau preto”...

- Tem “rezas” desse feitiço,
tem um formato castiço...
Força e fé dum “amuleto”!

sábado, 13 de março de 2010

Amor feitiço

Chega mais perto
meu «Sol aberto»,
meu despontar...
Pois só quem ama,
tem essa chama,
de fascinar.

Fala baixinho,
que eu adivinho,
«frases cortadas».
- Coisas felizes,
que tu não dizes,
mas são escutadas...

Amor é isso,
este feitiço,
de te aprender.
- Quebra-de-enguiço...
Fado castiço...
«De te bem querer»!

- Esta alquimia,
esta magia,
de te pensar.
- Amor é isso,
este feitiço,
de te “ensinar”!...

- Amor percebe...
Quem dá recebe,
sempre a dobrar!!!

Mulher mas menina

Figura soturna,
bonita, cativa...
Da sombra nocturna
que teu corpo aviva!

À noite…Que sina,
que estranha loucura...
Mulher mas menina,
já ninguém te ensina,
que a vida, que é dura!...
- És linda e franzina,
és doce e cretina,
és raiva e doçura!

Teu olhar profundo,
teu jeito de andar!...
- Sou homem do mundo,
confesso no fundo,
«parei p’ra te amar»!
Parei um segundo,
parei p’ra ficar...

Mulher mas menina,
que luz cristalina,
em noite tão escura...
Mulher mas menina,
quem sabe é à esquina,
que mora a ternura?...
- Amar “à surdina”,
teu corpo traquina,
o tempo que dura...
- Tua voz fascina,
maldosa e “divina”,
suave e segura!...
- Seduz, ilumina,
apaga-te a sina,
de mulher madura!...

Na noite que é escura,
«na vida que é dura»,
ninguém “vaticina”...
- Que tu tens doçura!
És mulher madura,
“escondendo a menina”!

sábado, 6 de março de 2010

Saudade

Talvez a saudade seja,
uma lembrança de vida,
ou talvez o que sobeja,
de tanta coisa perdida...

A saudade é "garra adunca",
que nos fere e nos magoa...
Não nos larga, nunca, nunca,
quando a alma nos povoa!...

Ao lembrar o que perdemos,
é que nos “arrasa” a dor...
Essa dor que só não temos,
quando não temos amor!...

- Não fujas nunca à saudade,
mesmo assim, sendo matreira!...
- Só quem ama, na verdade,
tem saudade a vida inteira!

Meu povo já não existe

Meu povo já não existe,
está perdido, amordaçado!...
Crianças de rosto triste,
vagueiam com arma em riste,
nesse País assombrado.

Acordam...Vão a correr,
vão brincar ao "pim, pam, pum"...
- Se vão matar ou morrer,
isso é coisa a depender...
«Sonho não trazem nenhum»!

Se a juventude não sonha,
quando a fé já não persiste…
- Não há honra, nem vergonha,
nem verdade que reponha,
tantas vidas que sumiste!...

Esse Povo que era o meu,
até a História o esqueceu
da forma ingrata que viste.
- No sagrado solo teu,
caíu de pé mas morreu!...
«Meu Povo já não existe»!!!

terça-feira, 2 de março de 2010

São compo chacais

Mataram um homem,
que foi um “bandido”,
que em tempo devido,
mereceu ser “poupado”!
- Que em tempo devido,
«foi um aliado»!...
Mataram um homem...
Castigo infligido...
Se o mundo fingido,
está mais descansado,
o mundo não foi,
não foi melhorado!
- Compraram os sonhos,
venderam a guerra,
«pintaram a Terra,
de sangue encarnado».

«O seu, a seu dono»,
tiraram-lhe o “trono”,
talhado a “mão dura”...
- Que “canalha horrível”,
mas como é possível,
«uma ditadura»???
- Compraram os sonhos,
venderam a guerra,
«fizeram da Terra,
uma sepultura»!...

Mataram um homem,
tiraram-lhe a vida,
que a “pena de morte”,
que a “pena de morte”,
não foi abolida!...
Mataram um homem,
por enforcamento!...
Pois «ser fraco ou forte»,
depende da sorte,
do lado em que estamos,
a cada momento...
Depende do tempo!
Depende “do vento”!!!
- Compraram os sonhos,
venderam a guerra,
lançaram na Terra,
morte e desalento!

- Mataram um homem,
mataram “um louco”?
Pois o que tu sabes,
é pouco, bem pouco...
- Mataram “aos pares”,
mataram milhares,
são como “chacais”!...
- Mas vão matar mais,
matar mais e mais...
Só que pouco-a-pouco.

- Pois só há um Mundo
e as guerras no fundo,
são sempre infernais...
Que os homens por vezes,
que os homens às vezes,
“se tornam iguais”!...

Mulher da minha aventura

Mulher da minha aventura,
onde fui “beber” ternura,
na busca dum sentimento…
- Lá nos amamos, na cama,
nessa “fúria” de quem ama,
quem vive, cada momento…


Pois foram noites de entrega,
«que o amor nunca se nega»,
quando nos sentimos sós!...
- Lá nos amamos “à louca”,
já que a vida é “curta e pouca”,
quando enfim “damos por nós”!


Mulher da minha aventura,
esse “sol de pouca dura”,
não foi só um sonho vão!
- Foram momentos a dois,
sem lugar para “um depois”,
sem medo, sem frustração!...


Pode até parecer loucura,
mas essa “página” perdura,
«no livro do coração».
- Sei o que “levas contigo”,
se eu próprio trago comigo,
a «história dessa paixão»…


- Se o destino, no seu trilho,
roubou aos teus olhos brilho,
«matando os sonhos a eito»…
- Estou aqui! Rezo baixinho…
Peço a Deus, que com carinho,
“te tire essa dor do peito”!...


- Sei bem da tua amargura,
da má sorte, desventura,
que o teu “coração chora”…
Estou aqui! Rezo baixinho,
peço a Deus que com carinho,
«mude a tua sorte agora»!...


- Mulher da minha aventura,
«pudesse eu dar-te a ternura,
essa que me deste outrora»…
- Pudesse eu “ter o talento”,
de te dar força e alento,
“mudar-te a noite em aurora”!!!